Confira esse post sobre a cidade de Bukhara, no Uzbequistão, um país situado na Ásia Central, com um quê de Mil e Uma Noites.
Bukhara, Uzbequistão
Bukhara é uma das cidades mais importantes (e belas) do Uzbequistão, já tendo sido considerada o centro cultural do Islã.
Não é à toa que ela foi o cenário inspirador de algumas histórias da saga As Mil e Uma Noites.
O centro de Bukhara não mudou muito nos últimos 200 anos – o que se nota com facilidade, sobretudo quando se caminha por seus mercados e monumentos.
Por volta do Século VI antes de Cristo, a região era parte do Reino Sogdiana. A Dinastia Samânida (descendentes dos Sogdiana) floresceu em Bukhara no Século IX e incentivou bastante o desenvolvimento da cultura persa.
Na idade média, Bukhara contava com 113 madraças, onde estudaram grandes personalidades, como Avicenna – Abu Ali ibn-Sina – um dos mais importantes nomes da medicina.
“Madraças” são escolas islâmicas, destinadas sobretudo a homens, onde há aulas sobre o Corão, caligrafia árabe, entre outras ciências. Algumas permitem alunas mulheres, mas são poucas.
Além disso, Bukhara contava com cerca de 300 mesquitas.
Veja, a seguir, as atrações de Bukhara.
Mausoléu de Ismail Samani
Ismail Samani foi o fundador da dinastia Samânida e seu mausoléu é um dos monumentos mais antigos de Bukhara, datando do ano 905.
Ele não foi destruído pelos mongóis somente porque foi enterrado pela população local, que pretendia escondê-lo.
Mesquita Bolo-Hauz
Essa mesquita aberta, datada de 1781, era onde o Emir orava.
Repleta de mocárabes coloridos e de pilastras de madeira, ela reflete poeticamente sua imagem na cisterna situada à sua frente.
Por essa razão, ela é chamada de “Mesquita das 40 Pilastras”, ou seja, suas 20 pilastras, mais outras 20 resultantes do reflexo na água.
Em frente à mesquita, situa-se a Ark, residência dos Emires.
Ark
A massiva fortaleza Ark é um dos monumentos mais imponentes de Bukhara, bem como um dos mais antigos.
Foi residência dos Emires de Bukhara, do Século V ao Século XX, até ser destruída pelo Exército Vermelho soviético.
Atualmente, no forte funciona um museu, onde podemos ver o Pátio da Coroação, o Harém, bem como as câmaras de tortura, onde os presos dividiam espaço com escorpiões e outros insetos repugnantes.
Algumas partes de seu interior são ricamente ornamentadas, mas o palácio ainda está sob restauração, que vem sendo realizada paulatinamente pelo governo, como forma de estimular o turismo em Bukhara e no Uzbequistão em geral.
Além disso, há interessantes peças em suas salas de exibição.
Minarete e Mesquita Kalon
O Minarete Kalon, com seus 47 metros, foi à sua época a construção mais alta da Ásia Central.
Ele foi construído em 1127, durante a dinastia Karakhanid, e sua beleza impressionou até mesmo o mongl Gengis Khan, que o poupou da destruição.
Aos pés do minarete, situa-se a Mesquita Kalon, datada do Século XVI, que comporta cerca de 10.000 fiéis.
Durante a invasão soviética, ela foi utilizada como depósito.
Sua reabertura para fins religiosos ocorreu apenas em 1991.
Sua decoração externa representa o mais refinado estilo arquitetônico persa.
Madraça Mir-i-Arab
Com seus domos azuis, essa madraça é um dos monumentos mais belos de Bukhara.
Datada do Século XVI, ela foi construída durante a dinastia Shaybanida e homenageia um xeique do Iêmen.
Bazares Cobertos
Os bazares ou mercados cobertos são a marca registrada de Bukhara.
São eles Taki-Sarrafon, Taki-Telpak Furushon e Taki-Zargaron, sendo cada qual especializado em um tipo de mercadoria, como por exemplo especiarias, chás, tapetes, roupas, entre outros.
Ainda nos mercados, encontramos ateliês de artistas, como o Ateliê de Pinturas em Miniatura, arte que ganhou fama na Índia.
Este retrato é de Ibn-Sina, ou Avicenna, nascido perto de Bukhara – um dos nomes mais importantes da medicina, da idade média.
As diversas tendas se espalham em ruelas cobertas por um conjunto de domos, que se prestam a refrescar o ambiente.
Madraça de Ulugbek
Erigida em 1417, ela é uma das madraças mais antigas da Ásia Central.
Trata-se de obra do Emir Ulugbek – o rei astrônomo – e serviu como modelo para a construção de diversas outras madraças, inclusive para a famosa Madraça de Ulugbek de Samarcand.
Madraça de Abdul Aziz Khan
A Madraça de Abdul Aziz Khan, datada do Século XVI, situa-se em frente à Madraça de Ulugbek e contém alguns dos trabalhos mais bonitos de Bukhara.
Sua fachada impressiona pelos mocárabes coloridos, que parecem um favo de mel.
Além disso, o contraste do fundo azul com florais dourados chama a atenção por sua beleza.
Os dormitórios, que antigamente comportavam estudantes, hoje em dia ostentam lojinhas de souvenir.
Praça Lyabi-Hauz
Esse o local mais bonito e icônico de Bukhara.
Trata-se de uma praça, com uma cisterna rodeada por três lindos monumentos.
Aliás, Bukhara contava com diversas cisternas pela cidade, sendo que os russos mandaram drenar a maioria delas, pois suas águas estavam contaminadas.
Entretanto, ainda podemos encontrar algumas, como a cisterna de Lyabi-Hauz.
Ao redor da água, situam-se a Madraça Kukeldach, a Madraça Nadir Divanbegi e a então hospedaria de dervixes, Nadir Divanbegi Khanaka.
Madraça Kukeldach:
Khanaka (hospedaria de dervixes) Nadir Divanbegi:
Os “Dervixes” eram praticantes do sufismo, o lado “exotérico” do islamismo, e viviam uma vida austera. Equivaliam, mais ou menos, a “monges” cristãos.
Madraça de Nadir Divanbegi:
Os islâmicos proíbem a reprodução de imagens de seres vivos, no entanto, há algumas poucas exceções. Por exemplo, na fachada da Madraça Nadir Divanbegi há figuras de fênix e um de sol zoroastrista.
Ainda na praça, há um agradável restaurante, chamado Lyabi-Hauz.
É delicioso saborear um vinho branco às margens da cisterna.
Sitorai Mohi Hosa
Situado fora da zona central de Bukhara, o Sitorai Mohi Hosa foi o palácio de verão do último Emir, Alim Khan, antes da invasão do Uzbequistão pela União Soviética.
Suntuoso, ele mescla os estilos arquitetônicos russo, turco, persa e asiático.
O Emir havia construído esse palácio para impressionar uma nobre russa, com quem ele pretendia se casar.
O harém situava-se do lado externo do palácio, às margens da cisterna, e era um dos lugares mais agradáveis do complexo.
Além disso, o palácio foi o primeiro lugar a contar com luz elétrica na cidade.
Maghok-i-Attar
Esta é provavelmente a mesquita mais antiga da Ásia Central, datando do século IX.
Embora ela tenha sido reformada no século XVI, ali foram encontrados resquícios de um templo Zoroastrista do Século V, bem como resquícios de um templo budista ainda mais antigo.
Um detalhe interessante é que, no Século XVI, os judeus podiam usar a mesquita como sinagoga.
Ou seja, era um templo de adoração bastante eclético e simbolizava a tolerância religiosa que já existiu em Bukhara.
Nos arredores da mesquita, há ruínas de banhos turcos e de caravançarais.
Char minar
Afastada do centro, essa madraça do início do Século XIX conta com quatro minaretes.
Conta, ainda, com um estilo arquitetônico indiano.
E aqui se acabou nossa estadia em Bukhara, após o que seguimos para Samarcanda!
Onde fica o Uzbequistão?
Situado na Ásia Central, o Uzbequistão está a meio caminho entre a Europa e o Extremo Oriente.
Essa localização geográfica transformou o país em um ponto extremamente estratégico da Rota da Seda.
Como resultado, no Uzbequistão floresceram os 3 entrepostos mais importantes daquela rota comercial, os quais posteriormente se tornaram as cidades de Khiva, Bukhara e Samarcanda (ou Samarcand).
Caravanas de comerciantes vinham de ambos os lados, ou seja, do ocidente e do oriente, e se encontravam no Uzbequistão, sobretudo em Samarcanda. Os ocidentais traziam da Europa joias e tecidos, ao passo que os orientais traziam seda e especiarias, entre outras mercadorias exóticas.
Em seguida, todos se reuniam nos grandes mercados de rua, para intercambiar esses bens.
Em suma, o Uzbequistão já fez parte da Pérsia e já foi palco de invasões dos gregos, árabes, turcos, seljúcidas, mongóis, timuridas e russos.
E, claro, essa sucessão de trocas no poder fez do país um caldeirão cultural e étnico. Por essa razão, podemos encontrar uzbeques de feições loiras, morenas, turcas, com olhos orientais ou não.
Os uzbeques são os descendentes islamizados do mongol Gengis Khan, vindos do sul da Sibéria, sua terra natal, em busca de conquistas.
No Século XV, se estabeleceram na região e se mesclaram com os turcomenos.
Da mesma forma, ali encontramos cristãos, islâmicos e até mesmo zoroastristas e budistas.
Esse caleidoscópio cultural reflete inclusive na arquitetura dos monumentos e edifícios.
Aliás, o Uzbequistão ostenta algumas das mais preciosas joias arquitetônicas do mundo islâmico.
Por fim, não deixe de conferir nosso roteiro completo no Uzbequistão, bem como nossos posts sobre Khiva, Samarkanda e Tashkent.